A Prefeitura divulgou com pompa e especificidades foto do prefeito de Florianópolis com representantes da plataforma Airbnb anunciando uma parceria de compartilhamento de dados para "fomentar o turismo". É isso num momento em que uma cidade explode em novas construções dos chamados “estúdios”, que nada mais são do que pequeníssimos apartamentos feitos unicamente para especulação. Se até então a plataforma do Airbnb organizava aluguéis de curta temporada juntando proprietários de um imóvel interessado em ganhar um troquinho, agora já existem empreendimentos inteiros feitos especialmente para servirem deste tipo de aluguel. E, é claro, o que é bom para alguns acaba sendo um inferno para grandes levas de gente.
O primeiro problema causado por esta plataforma de aluguel de curta duração é que começa a faltar imóveis para aluguel normal, ou seja, para pessoas ou famílias morarem por longos períodos. Os donos dos imóveis obviamente obtêm muito mais lucro alugando na lógica da alta rotatividade, evitando assim problemas com inquilinos. Mas, as pessoas que precisam morar num lugar acabam ficando sem alternativas porque, ou não encontram imóveis ou têm de pagar valores altos. Para se ter uma ideia há estúdios sendo personalizados no bairro Trindade, próximo à universidade, por 3.600 reais ao mês, um valor exorbitante numa quitinete de 30 metros quadrados.
Cidades turísticas são as que mais sofrem com essa explosão de aluguel de curta duração e algumas delas, principalmente na Europa, já estão proibindo a ação da plataforma. Ocorre que o Airbnb não se configura uma rede imobiliária ou hoteleira, ela vende a tecnologia, a plataforma. Sendo assim a empresa não paga qualquer imposto como o fazer os hotéis normais ou as imobiliárias. Então, para ela, tudo é lucro. Isso levou o movimento dos hoteleiros a reivindicar uma regulamentação ou mesmo a decisão. Paris, Londres e Barcelona estão na lista das cidades que proibiram este tipo de plataforma depois de verem os moradores sendo praticamente expulsos das cidades por conta da alta dos aluguéis. No caso do Brasil, que é um país dependente e subdesenvolvido, o problema fica ainda maior porque o déficit habitacional já é bastante elevado.
Em Florianópolis, onde o bonde do cimento avança, o déficit é de 20 mil moradias e todos os dias as pessoas se deslocam para as cidades vizinhas em busca de aluguéis mais baratos, pois é quase impossível viver na capital. Considerando que a média dos trabalhadores está em 3.600 reais fica impraticável morar e comer, visto que como já foi aqui, uma quitinete custa isso por mês. Nos bairros praieiros, principalmente no sul da ilha, o deserto de famílias já é visível. Com os prédios subindo na beira da praia, todos eles voltados para especulação, viver por ali ficaram impraticáveis, ainda mais considerando que a prefeitura não oferece qualquer mudança na estrutura viária, de saúde, de água ou luz. Isso significa um surto desproporcional e muitos incômodos para os moradores.
Aqueles proprietários que usam suas próprias casas para alugar no verão ficam maravilhados com a possibilidade de deixar tudo por conta de uma plataforma gigante como o Airbnb, mas no longo prazo acabarão por serem também responsáveis pela destruição dos bairros como espaço de moradia. As casas hoje mudaram para investimentos financeiros e toda a lógica comunitária está mudando. No longo prazo esse aluguel orgânico, feito só na temporada, já não servirá mais e o turista vai preferir a comodidade dos prédios preparados para esse tipo de negócio. Ganha a plataforma multinacional e perde o morador local. O déficit habitacional cresce e o abismo social se aprofunda. O fim da história já sabemos de cor.
Há que compensar essa lógica e principalmente há que orientar e informar os moradores das cidades sobre essa prática predadora, típica da capital que só pensa em se expandir sem qualquer preocupação com as pessoas.
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